terça-feira, 25 de maio de 2010

Morrer é preciso

Nós estamos acostumados a ligar a palavra morte apenas à ausência de vida e isso é um grande erro. Existem outros tipos de morte. E precisamos morrer todo dia. A morte nada mais é do que uma passagem, uma transformação. Não existe planta sem a morte da semente, não existe embrião sem a morte do óvulo, não existe borboleta sem a morte da lagarta. A morte nada mais é que o ponto de partida para o início de algo novo, a fronteira entre o passado e o futuro.
Se você quer ser um bom universitário, mate dentro de você o secundarista aéreo que acha que ainda tem muito tempo pela frente. Quer ser um bom profissional? Então mate dentro de você o universitário descomprometido que acha que a vida se resume a estudar só para fazer provas. Quer ter um bom relacionamento? Então mate dentro de você o jovem inseguro, ciumento, crítico, exigente, imaturo, egoísta ou o solteiro que pensa que pode fazer planos sozinho, sem ter que dividir espaços e projetos com mais ninguém. Quer ter boas amizades? Então mate dentro de si a pessoa insatisfeita e descompromissada. Na verdade, todo processo de evolução exige que matemos o nosso "eu" passado.
E qual o risco de não agirmos assim? O risco de sermos duas pessoas ao mesmo tempo, perdendo o nosso foco, comprometendo essa produtividade, e, por fim, prejudicando o nosso sucesso pessoal e 'coletivo'. Muitas pessoas não evoluem porque ficam se agarrando ao que eram, não se projetam para o que serão ou desejam ser. Elas querem a nova etapa, sem abrir mão da forma como pensavam ou como agiam.
Quer ser alguém (líder, profissional, pai ou mãe, cidadão ou cidadã, amigo ou amiga) melhor e evoluído? Então, o que você precisa matar em si, ainda hoje, é o "egoísmo" de não abrir mão do passado. Só assim nascerá o 'ser' com quem você tanto sonha. Pense nisso e morra. Mas, não esqueça de nascer melhor ainda. O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Texto de Fernando Pessoa.